Vitor
- compagnonmm
- 2 de abr. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de fev. de 2023
- Por Mairon Compagnon e João Victor
Prólogo
“Os pensamentos são sombras dos nossos sentimentos, sempre mais escuros, mais vazios, mais simples”
- Frederick Nietsche
Tenho que admitir, o mundo é cruel demais, e tudo isso pela simples existência de seres cheios de ódio que deveriam ser exterminados o mais rápido possível.
Todo santo dia, de alguma forma, você recebe uma informação sobre uma troca de tiros entre a polícia e traficantes, assalto a bancos e mercearias ou, o mais difícil de engolir, assassinato de algum inocente. E ainda há aquelas notícias que a mídia não anuncia em lugar algum, talvez por medo de represálias ou de que isso cause um alvoroço global, mas não quero entrar em detalhes aqui.
Mas então, qual o motivo disso tudo? Você sabe o motivo pelo qual alguém desiste de viver honestamente e decide virar uma aberração, um erro da natureza, um ser fraco, destinado a viver na lama até o fim dos seus dias? Bom, não tem explicação, o mal existe e ponto. E não venha me dizer que isso tudo é porque os humanos têm livre arbítrio para fazer o que quiser, porque, no fim, essa conversa furada não vai convencer ninguém, principalmente você mesmo quando encontrar quem ama assassinado na sala e a única coisa que lhe resta a fazer é chorar.
É engraçado falar isso, afinal, eu vivi isso. Quando era criança, vi minha mãe ser baleada na minha frente, senti seu corpo ficar frio lentamente enquanto seu sangue escorria pelos meus dedos. Senti seu peito ficar sem ar enquanto ele tentava sussurrar para mim suas últimas palavras e após isso, vi seus olhos perderem o brilho antes mesmo que eu pudesse dizer a ela o quanto a amo. Não há como alguém esquecer uma cena como essas, não dá para superar a dor de uma perda, pelo menos não essa perda.
Quando finalmente cresci e atingi a minha pré-adolescência, tentei entender como funciona a mente de alguém que comete algum crime – por mais incrível que pareça –, quais as suas motivações, e por que alguém se sentiria tão bem cometendo um assassinato? Com isso percebi que os motivos para uma vida de crime são sempre os mais fúteis: ganância, inveja, ira, vingança, diversão. E foi desse jeito que meu coração se encheu de ódio de todos os monstros capazes de cometer esse tipo de crime.
Pode se dizer que, talvez, a morte da minha mãe não tenha me feito bem, afinal, fui destinado a morar sozinho com um pai alcoólatra que me bati todos os dias por achar que a morte da sua esposa era culpa minha e mesmo que eu tenha ido a diversos psicólogos, nunca consegui voltar a ser uma pessoa amável, como minha mãe desejava que eu fosse, sempre vivi atrás de máscaras, tentando esconder o que sentia, quem eu era e o que sou.
Durante a minha adolescência, comecei a ler relatos sobre serial killers, não deve de ser muito difícil de acreditar que isso aconteceria devido as minhas pesquisas anteriores, mas eu queria entender como funcionava a cabeça de uma pessoa que se divertia matando e torturando um outro ser humano.
Em um determinado ponto do meu estudo, concentrei-me em um dos mais famosos e mais bem-sucedidos assassinos em série: Jack, o estripador. Sempre tive a curiosidade em saber como Jack escolhia suas vítimas, as torturava e as matava, e, mesmo deixando uma pilha de corpos para trás, nunca chegaram perto de prendê-lo. Nunca entendi o motivo de todos os suspeitos serem homens, ou porque deles sempre trabalharem sozinhos, afinal, deve ser mais fácil agir em dupla para cometer esse tipo de crime. Acredito que, na verdade, o jornal inglês inventou essa história toda de um assassino em série na cidade de Whitechapel, junto com a primeira carta, mas no fim, como toda boa lenda, os boatos se tornará reais, fazendo com que uma dupla de assassinos surgisse e tornando a lenda do Jack estripador real.
“Jack” sempre operou da mesma forma: atacava prostitutas em um bairro escuro, mutilava suas vítimas com cortes no rosto, braços, pescoço, barriga, além da parte mais perturbadora, a remoção dos órgãos. Chegou até a mandar um rin para a delegacia de polícia, junto com uma carta, para brincar um pouco com a situação, afinal, sabia que nunca seria preso.
Bom, tendo isso em vista, não posso negar, mas dado os fatos, talvez eu não me livrasse da possibilidade de ser mais um monstro como Jack foi, afinal, tudo que aconteceu comigo no passado me forçou a ser aquilo que eu mais detestava e me afastou do caminho que minha mãe queria que eu seguisse, o de ser um herói da justiça, algo como um policial ou um soldado do exército. Porem, vê-la morrer em meus braços, ser agredido pelo meu pai todo santo dia e me interessar pelo mistério acerca dos assassinos em série, tudo isso pode ter me transformado em alguém que traria vergonha a aquela que eu mais amei. Mas antes que tire conclusões precipitadas, quero lhe dizer que tudo que faço é por ela e mesmo sendo difícil de acreditar, no fim, isso é justiça!
Sendo assim, quero que você decida, se eu sou realmente um justiceiro ou apenas mais um monstro como Jack foi. A decisão está em suas mãos, afinal, não existe melhor júri do que uma possível próxima vítima.
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