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UMA GAROTA SURGE DO LADO DO RIO

Atualizado: 3 de fev. de 2023

-Mairon Compagnon


Antes que aquela coisa conseguisse fechar a boca, instintivamente rolei para o lado, por sorte os seus dentes afiados conseguiram apenas triscar na ponta dos meus cabelos.


Meus olhos estavam vidrados. Olhei ao meu redor buscando a melhor rota de fuga, mas antes que conseguisse pensar, o lobo já estava investindo contra mim novamente. Peguei um galho que estava ao meu lado e me deitei.


Suas patas eram do tamanho da minha cabeça, soube disso quando ele pulou em cima de mim e bateu aquelas coisas enorme ao lado do meu ombro, uma de suas garras acabará de cortar meu braço. O sangue ferveu pelo meu corpo, aquilo ardia como se algo estivesse queimando por dentro do corte. Comecei a suar sem parar.


Senti a baba do lobo caindo sobre a minha cara, seu hálito era horrível, fedia ao cheiro podre de um corpo em decomposição. Ele abriu a sua boca o máximo que pode e abocanhou do meu lado. Ele estava apenas brincando, como se eu fosse um pequeno animal. Antes que ele abocanhasse minha cara, virei o pescoço e finquei o pedaço de galho em suas costelas. O lobo uivou. Meus ouvidos chiaram e o seu grito de dor ecoou pela floresta. Sem pensar, encolhi meus dois pés e chutei a barriga do lobo que começou a recuar. Foi então que senti um vento fresco soprava pelos meus cabelos. “Água”, pensei.


Me levantei e encarei o lobo, seus olhos vermelhos brilharam de raiva, sabia que se não conseguisse fugir, ele iria me desmembrar sem nenhum trabalho.


– Ei, totó – gritei – que tal brincarmos um pouco – sacudi o galho como se estivesse tentando atrair a atenção de um cachorro e joguei por cima do lobo, mas aquela coisa monstruosa nem se mexeu.


-GRR – rosnou.


– Ai, amigão. Desculpa pelo machucado, mas era isso, ou eu perdia minha cabeça. – falei enquanto andava para trás – inclusive, já vou indo, foi bom te conhecer – virei e comecei a correr em direção ao que eu apostava ser um rio.


Por alguma razão, a vegetação voltava a ser como da primeira vez, árvores que se perdiam no céu, mas por algum motivo, pelo chão, havia galhos e folhas, finalmente aquilo parecia real.


– Droga, espero que realmente tenha um rio por aqui – corri sem parar. Meu ombro continuava ardendo, o sangue escorria pelo meu braço e pingava nas folhas. A sensação que eu tinha era que havia me cortado e enfiado uma prego quente dentro da ferida, queimando a carne por dentro. – eu só quero voltar pra casa.


Corri por mais alguns metros e quando me dei conta, o lobo estava bem atrás de mim, mas por sorte, havia um córrego a minha frente.


– Ufa - suspirei – se há água, deve de haver civilização.


Me virei de costas e olhei nos olhos do lobo, estava certo que sairia ileso dessa, afinal, ele não iria cair no córrego e me seguir nadando.


– Aí, totó – gritei – foi mal, mas já está na minha hora. Até nunca mais – sorri de orelha a orelha e levantei os dedos do meio. Eu sei, foi patético fazer isso, mas estava fugindo daquela coisa assustadora a muito tempo e finalmente eu estava livre e quase sem nenhum arranhão, pelo menos era o que eu achava.


Quando, finalmente, estava a alguns metros do córrego, me lancei em direção a água, mas era cedo demais pra comemorar. Mesmo que o lobo ainda mancasse, ele se lançou em minha direção cravou suas garras em minhas costas.


Meu corpo ardia. Senti minhas costelas queimarem. Mesmo que eu estivesse agora dentro daquele pequeno rio, a água fria não foi suficiente para fazer a dor parar, eu podia ver o sangue se espalhando por todos os lados. Minha pressão baixou, senti minhas mãos ficarem frias, enquanto minhas costas queimavam, mal conseguia me mexer, estava perdendo a consciência.

Antes que eu desmaiasse, senti alguém me puxando. Quando dei por mim, já estava do outro lado do córrego.


– Segure nesse galho aqui. – alguém falou. Sua voz era calma e suave. – Eu vou subir e quando pedir, me dê a sua mão.


Senti aquele toque caloroso se afastar de mim, eu tinha a sensação de que já vivera isso antes, apenas não conseguia lembrar.


– Pronto. – disse ela enquanto me puxava – Agora nós dois estamos a salvo.


– Ah, obriga… argh – minhas costelas continuavam ardendo.


– Sente aqui. Deixe-me ver isso – disse ela enquanto tocava minhas costas.


Por alguma razão, suas mãos me acalmavam e isso fez a dor ir embora bem devagar. Um suspiro de paz soprou em meu coração.


– Obrigado, já me sinto melhor. – disse com um sorriso no rosto – Mas o que você fez?


– Não posso revelar meus truques – ela sorriu.


Finalmente conseguia ver o seu rosto. Seus olhos eram azuis como um cristal, um tom claro nas bordas, mas que escureciam quando se aproximavam da íris. Seus cabelos eram loiros, o que combinava perfeitamente com as suas sardas pelo nariz. Ela parecia ter a minha altura, um pouco mais baixa. Eu estava apaixonado.


– Certo, mas e quanto a ele? – apontei para o lobo do outro lado do córrego.


– Não se preocupe, ele não pode atravessar para esse lado.


O lobo então sentou e começou a uivar. Após isso, ele olhou fixamente para nós e em uma nuvem de fumaça ele sumiu.


– Mas para onde ele foi? – perguntei confuso.


– Isso nem eu mesmo sei dizer.


– E o que vamos fazer agora? Eu… eu preciso ir pra casa… – disse olhando em seus olhos.


– Bom, se você quer ir pra casa, a única coisa que precisa fazer é acordar – ela sorriu enquanto olhava para o céu – já está quase amanhecendo mesmo.


– Acordar, o que você quis dizer com isso?


Ela sorriu pra mim e me deu um beijo no rosto.


– Não se preocupe, nós vamos nos ver novamente. E quanto aos seus ferimentos, eles não parecem ter ferido o seu corpo. – ela então se levantou e começou a caminhar.


– Pra onde você vai? – eu estava mais confuso do que durante as provas de matemática – Por favor, apenas me diga o seu nome. Falei enquanto tentava levantar.


– Agora não é a hora. – disse ela enquanto se virava – Por enquanto você deve apenas…


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