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O HOMEM DE OLHOS AMARELOS

Atualizado: 3 de fev. de 2023

-Mairon Compagnon


– Ah, obrigado... – disse eu enquanto o encarava.


Seus cabelos eram grisalhos, seu nariz era grande e pontiagudo, além disso, ele tinha um maxilar quadrado como o Ian Joseph Somerhalder, o vampiro de The Vampires Diaries. Porém, havia algo impossível de não notar nele, seus olhos eram amarelos como ouro. Nunca havia visto algo assim antes.


– Não precisa agradecer, garoto! Mas me diga uma coisa, o que você está fazendo a uma hora dessas em uma floresta? – Seu olhar era sério demais, capaz de colocar medo até naqueles que gostam de uma boa briga.


Fiquei em silêncio por um tempo, estava vendo no quanto eu poderia estar ferrado. Além dele ter aparecido em um passe de mágica na minha frente, aquele homem parecia ser algum ex-presidiário barra pesada que dificilmente saiu por bom comportamento.


– Eu ainda não sei como vim parar aqui, apenas acordei no meio desse lugar e não consigo encontrar uma saída. Tem como me ajudar? – meus olhos imploravam por ajuda, não via a hora de sair daquele lugar.


– Você estava em uma festa, não é? – ele com um sorriso presunçoso.


– O que? – Disse a ele com uma expressão de surpresa.


– Fala a verdade, garoto. Você estava em uma festa acabou ficando louco e veio parar nesse lugar. Eu sei como é, já fiz isso antes – Ele sorriu e deu um tapa em minhas costas.


Eu estava confuso, em poucos minutos aquele homem tinha ido de psicopata matador para alguém simpático e meio babaca.


– Você é bem sério, hein, garoto. Mas pode deixar comigo, eu serei seu salvador. – disse ele enquanto mostrava seus dentes amarelados.


– Obrigado, eu acho - agradeci e recebi um longo sorriso torto em troca.


O homem, então, virou-se e seguiu andando como se guiasse uma matilha, estava um pouco sério e por um tempo evitou olhar para trás. Esperei o tempo passar e decidi romper o silêncio e conhecer um pouco mais sobre aquele homem, precisava ao menos saber o nome daquele que me tiraria dessa floresta sem fim.


– Escuta… – falei – qual seu nome?


Ele me olhou e mais uma vez sorriu.


– Albion… eu me chamo Albion, mas, qualquer coisa, eu deixo você me chamar de “meu salvador” - a luz da lua iluminava seu rosto, dando uma cor mais intensa aos seus olhos amarelados e deixando o seu sorriso ainda mais assustador.


– É brincadeira, garoto. – disse ele com uma voz séria – Pode me chamar de Albi, meus amigos me chamam assim.


– E você tem amigos? – disse sorrindo, mas meu riso não durou muito, Albion lançou um olhar sério para mim e logo em seguida um vento frio soprou por toda a floresta, fazendo as árvores balançarem um pouco. Por um instante pensei que morreria.


– Me descul...


– Hahaha. Você é engraçado, garoto. – De repente tudo se acalmou. – Mas me diga você então, como se chama?!


– Martin – disse sem pensar muito.


– Ah, legal.


– Sim… meu pai quem escolheu – “e é bem melhor que Albion", pensei.


– É igual ao da série de tevê?!


– Isso – assenti.


– Eu lembro dessa série…, sempre quis ser como o Riggs. - disse ele enquanto, afastava alguns galhos do meio do caminho. – e você parece igual a ele.


– Como assim? – perguntei.


– Corajoso e sem noção do perigo.


Fique em silêncio, não sabia o que responder. Meu peito apertou e senti um frio percorrer todo meu corpo, tive uma sensação de que algo ruim aconteceria. Esperava muito estar errado.



***



Alguns minutos se passaram, mas esse pouco tempo foi mais do que suficiente para que a noite ficasse mais densa. A lua havia perdido seu brilho e as nuvens cobriram todo o céu, agora a escuridão reinava por toda a parte.


– Você consegue enxergar alguma coisa? - Perguntei


– Calma, garoto. Confie em mim, eu sei para onde estou indo. – disse Albion calmamente.


– Tudo bem… – minha voz enfraqueceu enquanto falava.


Albion parecia enxergar tranquilamente naquela escuridão, desviava dos galhos como se já estivesse os vendo de muito longe.


– Ei, garoto – disse ele – qual o nome dos seus pais?


– Por que a pergunta? – desviei um galho para o lado.


– Ah, só estou tentando ser legal e diminuir a tensão por aqui – um sorriso pareceu brotar em seu rosto.


– Certo – sussurrei – Bom, minha mãe se chama Isabella.


– E o seu pai? – disse ele enquanto diminuía a velocidade dos seus passos.


Por um momento eu parei e vi um homem fazer o mesmo, acho que ele sentiu que perguntar aquilo não me fez muito bem.


– Ele já morreu, não é? – Albion soltou um longo suspiro – Olha, garoto, se você não quiser falar nada, está tudo bem. Eu entendo.


– Não, mas é que…


Antes que eu começasse a frase, um grunhido soou ao longe. O lobo estava chegando perto.


– Você ouviu isso? – disse Albion olhando em todas as direções.


– Sim, e essa não foi a primeira vez. – meu coração começava a acelerar de novo – Mas eu acho que ele está bem longe, não precisamos nos preocupar.


– Odeio te dizer isso, mas você está errado, garoto. – disse ele enquanto me olhava – Aquela coisa está mais perto do que você imagina. – ele virou-se e seguiu andando, bem mais rápido dessa vez.



***



O céu começava a clarear, as nuvens começavam a se dispersar pelo céu.


– Sabe, não gosto muito de lembrar do meu pai - disse em um tom de tristeza.


– Como eu disse, garoto. Se você quiser, paramos o assunto...


– Ele se chamava Samuel, e ele morreu quando eu tinha 13 anos. Nunca soube o motivo da sua morte, minha mãe não quis me contar, mas por algum motivo eu ainda sinto que ele pode estar vivo em algum lugar.


Naquele momento, um calor invadiu o meu peito. Lembrar do meu pai trouxe-me calma, paz. Por um instante, senti o seu abraço me apertando, ouvi o som da sua risada e lembrei de quando fomos pescar, foi a última vez que fizemos alguma coisa juntos. Naquele dia, eu acabei me machucando e não conseguia parar de chorar, lembro-me que, calmamente, meu pai se aproximou de mim e falou: “Não chore, meu filho. Por que não tenta rir do que acabou de acontecer ou simplesmente esboça um leve sorriso no rosto?! Ninguém precisa te ver chorar e dessa forma, ninguém vai saber que você possui alguma fraqueza e tentarão se aproveitar de você.”; após isso, meu pai me pegou no colo e voltamos pra casa. Essa era a melhor memória que eu tinha do meu pai.


– Isso é profundo, garoto. – sua voz parecia longe – Mas se você diz que ele está vivo, eu acredito.


– Sabe – disse eu mais falante do que nunca – meu pai sempre foi um herói pra mim. Ele tinha uma presença forte, apesar de não ser muito alto e nem tão musculoso, dava pra sentir que as pessoas tinham um pouco de medo dele. Acredito que era por causa da cicatriz no seu rosto e da sua tatuagem.


– Essa cicatriz ia do olho até a boca? – Albion parou de andar.


– Sim… – respondi um pouco assustado.


– Ele era um pouco bronzeado, tinha um cabelo curto, preto, olhos verdes e um nariz pontiagudo?! – disse Albion enquanto se virava.


– Sim. E a sua tatuagem era....


– Um dragão!


– Como você sabe?


– Eu conhecia seu pai, Martin – disse Albion enquanto se aproximava de mim. – Ele era um cara legal, pena que…


– Auuu, Grr Grr.


Aquela coisa havia chegado mais perto que o esperado, podia sentir uma tensão no ar. Por algum motivo sentia que algo ruim iria acontecer e que não teria como escapar.


– Albion, ele está aqui, nós temos… nós temos que fugir – eu estava apavorado.



– Nós não vamos fugir – sua voz havia mudado, ela era grossa e tranquilizadora como… como a do meu pai. – Você não vai a lugar nenhum.


– Quem é você, o que você… – tropecei enquanto falava, agora estava esfregando minha bunda no chão tentando ir para o mais longe possível dele.


– O que eu sou? É difícil de explicar, mas o que eu posso dizer é que seu pai me deve e está na hora de cobrar essa dívida.


De repente, um vulto negro começou a se aproximar por trás de Albion, uma baba espessa caiu ao seu lado. Senti dois olhos gigantes me fitando como se quisesse me devorar vivo.


– Ah, olhe só, ele chegou. – um enorme lobo se pôs ao lado de Albion. Seus olhos eram vermelhos, seu pelo era em um tom cinza e seus dentes eram enormes, tão grandes quanto as suas garras. Ele era cheio de cicatrizes pelo seu corpo, em especial uma marca de garra por cima do seu olho esquerdo.


– Socorro – gritei enquanto me levantava e tentava correr para o mais longe possível.


– Ah, garoto. Como é desapontador ver essa sua cena ridícula. Parece que você não aprendeu nada com seu pai... - disse Albion enquanto acariciava a criatura gigante – mas se você prefere assim.... então, vamos brincar! Pega, garoto!


O cão começou a andar bem devagar em minha direção. Por um momento eu olhei pra trás e vi Albion sumir em uma nuvem de fumaça, mas por algum motivo, antes de desaparecer, senti ele me dizendo um até logo.


– Desgraçado – gritei.


Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, senti meu ombro ficar encharcado e um bafo quente soprou no meu cabelo, o lobo estava em cima de mim e minha cabeça estava prestes a ser arrancada.


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