O INÍCIO DE UM PESADELO
- compagnonmm
- 27 de mar. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de fev. de 2023
- Por Mairon Compagnon
– Martin! Martin! – dizia uma voz bem distante – Vamos, acorde! – senti meu corpo sendo sacudido – Vamos.
Calmamente a voz foi distanciando-se junto com as mãos que estavam sobre meu corpo. Logo comecei a recuperar os meus sentidos. Nessa hora a solidão tomou conta de mim.
Abri meus olhos de vagar. A princípio havia apenas escuridão ao meu redor, o frio tomava conta do meu corpo e uma terrível neblina estava espalhada por todos os lados.
Levantei-me e olhei para o céu, a lua reinava como em uma bela cena romântica de algum filme. Estava grande, cheia, mas estranhamente brilhava em tom vermelho sangue, transformando todo romance em um belo filme de terror.
As estrelas brilhavam incessantemente e, como minha vista ainda estava embaçada, pareciam se transformar em pequenos meteoros que cairiam sobre a terra trazendo o espetáculo mais lindo e assustador de todos.
Balancei um pouco a cabeça na tentativa de aliviar a tontura e a pressão no meu ouvido até que consegui ouvir o canto das cigarras e cricrilar dos grilos ao longe.
– Tá, legal! – disse enquanto piscava e olhava ao meu redor – Onde é que eu estou? – Meu coração que estava calmo até então começou a disparar, minha respiração havia ficado ofegante e subitamente minhas pernas paralisaram – Eu, eu preciso sair daqui! Mas para onde vou? – logo que consegui me mexer, instintivamente, segui rumo a sudoeste.
Passei alguns minutos tentando enxergar além da neblina até que bati contra uma árvore e cai de bunda o chão.
– Ai. De onde saiu isso?! - Passei a minha mão na testa e senti um pequeno galo começando a se formar.
– Alguém me ajuda. - Gritei desesperadamente. Não sabia como havia chegado naquele lugar e nem como sairia.
– Por favor! – berrei – Aaa... minha mãe vai me matar. – soquei a árvore a minha frente, a raiva e o desespero estavam mais do que nunca tomando conta de mim, mas eu tinha que ficar calmo, apenas tinha que ficar.
Olhei então em direção ao céu e percebi que não dava para enxergar a copa das árvores, não só por estar escuro, mas por parecer que não havia fim. Voltei meus olhos para o chão, não havia galhos, folhas ou frutos sobre a terra, era como se não caísse nada das árvores a muitos anos, mas mesmo assim o solo era úmido e aparentemente fértil.
– Tá bom, mesmo que não dê para ver nada, deve de ter alguma saída por aqui.
Por um instante lembrei de um programa de sobrevivência que eu vivia assistindo, “A Prova de Tudo”. Um leve sorriso se abriu no meu rosto, estava quase me convencendo que poderia sobreviver ali apenas com os ensinamentos do Ber Grylls. Os insetos que deveria comer – eu sei, essa parte parece meio nojenta –, como fazer abrigo e fogo, além do mais importante: procurar civilização.
Entretanto, aquele não era o momento para pensar nesse tipo de coisa, balancei a cabeça e segui em frente.
Durante a caminhada, evitei olhar para trás ou para os lados e quanto mais andava mais minha respiração ficava pesada. Pensei que poderia ser por causa do medo ou qualquer coisa do tipo, afinal o ar parecia ter ficado rarefeito e eu sentia que uma hora ou outra algo daria errado, principalmente depois de ouvir uma coisa:
-Auuuuuu!
Um lobo! Bom, pelo menos parecia ser um lobo, mas o uivo era mais grave e ameaçador. Tinha a sensação de que ele estava longe, mas não a uma distância segura.
Comecei a correr o mais rápido que podia, todo o tempo que tinha gastado com corridas e exercícios tinha que valer a pena agora.
Pensei em olhar pra trás enquanto corria e soltar alguma piadinha como sempre fazia. Por um instante senti que meu melhor amigo estava ali comigo, como sempre estivera, afinal, eram raros os momentos em que eu saía sozinho. Esbocei um leve sorriso sem querer.
-Ah, Alan! Você seria de grande ajuda agora, mesmo que fosse só para te deixar para trás e servir de ração para aquele monstro. - Eu ri mais uma vez, mas um vazio tomou conta de mim logo em seguida, balancei minha cabeça e segui em frente.
Continuei a correr, minhas pernas começavam a pesar, meus pulmões pareciam ser espremidos a cada respiração que dava, estava difícil respirar. “Alguma coisa está errada”, pensei. Porem, minha linha de raciocínio foi cortada quando ouvi um granido como o de um cachorro, só que parecia estar bem atrás de mim.
– Grrrrr! Au!
Minhas pernas enriqueceram, minha cara foi de encontro ao chão. O desespero começou a tomar conta de mim até que eu escuto alguém:
– Tá tudo bem ai, garoto? Você parece estar fugindo de alguma coisa. – não consegui enxergar o seu rosto, mas tinha a certeza que aquele sujeito estava sorrindo. – Vem, levanta daí. – Ele estendeu o braço e ajudou-me a levantar.
Bati um pouco a poeira em minha calça e levantei a cabeça para ver quem havia me ajudado. Bem a minha frente, havia um homem alto, cheio de tatuagens e com um olhar que parecia sugar todas as suas energias. Sua pele ardia em um vermelho vivo, como a de quem passa horas trabalhando no sol. Vestia um macacão azul igual à de um mecânico porém, não estava com nenhuma marca de graxa pelo corpo. E o mais impressionante de tudo, seus olhos eram amarelados como ouro.
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