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Pela última vez

Atualizado: 3 de fev. de 2023


-Por Mairon Compagnon

Releitura da música Te vi na rua ontem, do artista Konai.

(Obs: Leia esse texto escutando a musica)



Eu estava sentado na cama enquanto a via partir. A gente sempre brigava e se reconciliava rápido demais, só que, dessa vez, foi diferente. Ela havia começado a arrumar suas malas de uma forma rápida e desorganizada, parecia, de fato, que não via a hora de sair dali. Enquanto isso, eu covarde como era, permaneci cabisbaixo tentando entender o que havia acontecido para chegarmos naquela situação.

- Bom, eu acho que é isso – disse ela me olhando enquanto segurava suas malas – é um adeus.

- Sabia que eu tive um sonho bem estranho essa noite - meus olhos ficaram marejados, mas fiz de tudo pra não chorar.

- Lúcio, isso não é hora para tentar...

- No sonho alguém chegava para mim e dizia que não via o nosso relacionamento dando certo.

- Hum - seus olhos pareciam arder em raiva - Então você está desistindo de mim por causa de um maldito sonho?

- Eu... Você tem que ir mesmo? – murmurei olhando para o chão.

- Não, mas não estou vendo você me impedindo de cruzar aquela porta.

Meu corpo travou assim que escutei aquelas palavras. Eu já não sabia mais o que dizer. Aquela não era a primeira ou a segunda briga que nós tínhamos, não mesmo. Mas algo parecia diferente dessa vez, por alguma razão, enquanto ela parecia estar mais determinada a ir embora, eu estava mais suscetível a ficar ali, parado, olhando-a partir sem conseguir mexer um músculo para impedir.

Ela virou-se e começou a andar em direção a porta, seus ombros pareciam estar pesados de tristeza e decepção.

- Essa é sua última chance – ela girou a maçaneta – mas sabe de uma coisa?! Eu ainda te amo.

Eu a vi cruzar a porta em câmera lenta, como em uma cena de um videoclipe. No último instante, antes que ela pudesse girar a maçaneta para fechar a porta, o meu corpo descongelou. O barulho foi como um gatilho para que eu despertasse daquele transe, mas a porta se fechou antes que pudesse tocá-la.

Um sentimento de tristeza invadiu meu peito, uma sensação de fraqueza me consumiu, mas eu não consegui abrir a porta. Não conseguir correr atrás dela e dizer que ia ficar tudo bem. Eu não consegui dizer para ela o quanto eu a amava.

Senti meu corpo se enfraquecer e antes que desse por mim, já estava indo de encontro ao chão.

- Desculpa – disse sussurrando – Desculpa…

Me sentei apoiando minhas costas na parede. Por alguma razão, naquele momento eu conseguia sentir que do outro lado da porta havia alguém, prestes a desabar no chão.

Tentei me levantar e ir ao banheiro. Sequei minhas lágrimas, lavei meu rosto e me joguei de volta na cama, quando ouvi alguém cruzando a porta.

- Eu sei… eu sei. Eu tenho muitos problemas, mas eu tô tentando mudar. Mas é você que tem medo de se arriscar, de se entregar. Você tem medo de se apaixonar por mim ou por qualquer pessoa. - Seus olhos estavam vermelhos, mas poucas lágrimas corriam do seu rosto. Meu coração se quebrava pouco a pouco ao ver ela chorar.

Era indescritível a sensação que eu sentia. Uma parte de mim só queria deitar para o lado e chorar. Mas reuniu forças e andei em sua direção

Sai da cama e fui andando em sua direção.

- Eu sei que falo muito isso, mas porra, isso não é justo. Eu tinha você comigo todas as manhãs e a noite, quando eu mais precisava de alguém ao meu lado, você estava lá. Você é o sorriso no meu rosto. O brilho nos meus olhos... Você me completa. - disse enquanto tentava me aproximar.

- Desculpa… Eu não consigo mais, não consigo acreditar no que você fala. Não é culpa sua, mas ainda assim... eu só não consigo - ela se afastou o rosto antes que eu pudesse tocá-la - acho que é um problema que eu deva corrigir o mais rápido possível. Eu já não sei mais o que fazer, pensar no quanto você vai me fazer falta me assusta.

- Por favor, me dá mais uma chance. Me deixa tentar só mais uma vez?! - meus olhos se encheram d'água, eu estava implorando para ela ficar.

Ela limpou seu rosto com a manga da sua camisa. As suas lágrimas haviam borrado sua maquiagem, sua bochechas agora estavam manchadas. Mas ela continuava linda.

- Quem sabe um dia a gente se resolva e a gente possa recomeçar, mas por hora é melhor continuarmos assim. - ela virou em direção a porta e seguiu para fora - Acho que agora você não pode mais me impedir.

- Eu só não queria que as coisas tivessem terminado assim - disse enquanto a via partir mais uma vez.

- Desculpa.

Ela fechou a porta pela última vez.


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